sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Sobre a validade das publicações científicas - Declaração de Berlin





Sobre a validade das publicações científicas - Declaração de Berlin

Offline: A new Berlin Declaration for STM publishing


A nossa indústria está em boa forma? A indústria está a publicar e a questão foi colocada na conferência Academic Publishing in Europe, realizada na semana passada na magnífica Academia de Ciências e Humanidades de Brandemburgo, magnífica e cheia de balas. Duas vistas impressionantemente opostas foram apresentadas. 
(...)
Ralf Schimmer, vice-chefe da Biblioteca Digital Max Planck, viu nada menos do que um fim. Ele explicou a missão do Open Access 2020, uma iniciativa que busca matar a publicação de assinaturas nos próximos 4 anos e substituí-la completamente por um modelo de acesso abertoEle diagnosticou publicação científica como tendo os "sintomas de um sistema de deterioração". Ele pretendia expor a "nudez do sistema de subscrição", cujos "dias estão visivelmente superados". Tradicionais editores, com poucas exceções, declararam-se confiantes em suas auto-avaliações sobre a robustez do seu futuro. Os defensores do acesso aberto estavam igualmente convencidos de que iriam prevalecer sobre um modelo de assinatura que eles odeiam tão amargamente. Saí de Berlim pensando em uma praga em suas casas.
(...)
...as suposições que compartilhamos hoje na publicação científica - onde pretendemos atender às necessidades dos leitores, acrescentar valor e promover o bem-estar humano - estão se tornando cada vez menos verdadeiras. Como o encontro de Berlim mostrou muito claramente, quando confrontados com crises globais generalizadas, nossa resposta é introspecção, incerteza, ansiedade, dúvida e desunião.
Conversamos sobre questões para tentar assegurar nossa importância: nossa reputação coletivamente pobre, melhorando a revisão pelos pares, a discriminação de gênero.
Mas não falamos sobre como poderíamos enfrentar epidemias emergentes, mudanças climáticas, conflitos e guerras.
A publicação acadêmica perdeu contato com as preocupações da própria sociedade que deveria servir. Tornou-se tão envolvida em suas próprias preocupações técnicas e lutas internas, que as dificuldades globais que os editores devem abordar foram esquecidas ou ignoradas.
Existem alguns valores que os editores acadêmicos deveriam estar lutando em voz alta e em público. Os fatos ainda importam. As liberdades precisam ser defendidas. Equidade e igualdade são metas sociais importantes. Existe uma coisa como a justiça social. 
O progresso só será alcançado através da cooperação, não do isolamento ou do unilateralismo. Em 2003, foi publicada a Declaração de Berlim sobre Acesso Livre ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades. Foi um marco auto-declarado no movimento de acesso aberto. 2017 exige uma outra Declaração de Berlim, uma dirigida às crises que enfrentamos hoje. A Declaração eu ofereço é apenas uma proposta, mas eu espero que você possa considerar inscrever-se nela.
Diz, por exemplo: "Nós, abaixo assinados, estamos preocupados com o fato de que as potenciais contribuições feitas pela publicação acadêmica com vistas à prosperidade e progresso humanos, bem como para a proteção dos ricos - mas vulneráveis - recursos ecológicos e culturais de nosso planeta, não tenham alcançado seus objetivos. De acordo com o espírito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, lançado em 1º de janeiro de 2016 e com data prevista para conclusão em 31 de dezembro de 2030, desejamos nos empenhar em usar os recursos editoriais disponíveis para acelerar o progresso no cumprimento desses objetivos acordados internacionalmente ". Editores acadêmicos: façamos algo importante. Juntos.
Ler na íntegra: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)30183-6/fulltext?elsca1=etoc
DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)30183-6
Link deste blog: http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2017/01/sobre-validade-das-publicacoes.html


Em 11.fevereiro.2017
Somente leitores atentos podem assimilar o que significa uma PUBLICAÇÃO (e apenas isso, uma publicação) divulgando o resultado de uma pesquisa. Não há conclusões, apenas hipóteses, interpretadas de um jeito por alguns cientistas e refutadas por tantos outros.

Claro que um título tendencioso, em um país onde a maior parte da população não se interessa em ler, vai levar o leitor desatento a interpretar o que quer.

Aqui temos um desses casos.Trata-se de uma pesquisa de 2010, recentemente republicada pela associação brasileira, entidade patrocinada pelos laboratórios farmacêuticos fabricantes de Ritalina, Concerta e Venvanse:


BBC
01/10/2010 06h32 - Atualizado em 01/10/2010 10h58

Estudo vincula déficit de atenção e hiperatividade a mutação genética

TDAH não é causado por inabilidade dos pais em educar, dizem cientistas.
Pesquisa publicada na revista 'The Lancet' analisou 366 crianças.

BBC
Cientistas britânicos dizem ter encontrado, pela primeira vez, evidências da existência de uma raiz genética para a condição conhecida como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Outros especialistas questionaram veementemente as conclusões da equipe da Cardiff University
A equipe, da Cardiff University, no País de Gales, Grã-Bretanha, afirma em um artigo na revista científica "The Lancet" que a condição, que afeta crianças em todo o mundo, resulta de um problema no cérebro - como o autismo, por exemplo - e não de uma inabilidade dos pais em educar seus filhos.
O estudo envolveu análises de partes do DNA de 366 crianças diagnosticadas com a condição.
Outros especialistas, no entanto, questionaram veementemente as declarações da equipe, argumentando que apenas um pequeno grupo das crianças com TDAH estudadas apresentou as alterações no DNA e que, na maioria dos casos, a condição seria resultante de uma combinação entre causas genéticas e fatores externos.
Na Grã-Bretanha, estima-se que 2% das crianças sofram do problema.
Elas tendem a ser agitadas e impulsivas e podem ter tendências destrutivas, além de apresentar problemas sérios na escola e na vida familiar.
Estudo
Os pesquisadores compararam amostras do DNA de crianças com TDAH com o DNA de 1.047 pessoas que não sofriam da condição.
Eles constataram que 15% das crianças com o distúrbio tinham alterações grandes e raras no seu DNA, em comparação com apenas 7% no outro grupo.
Uma das integrantes da equipe da Cardiff University, Anita Thapar, disse: "Descobrimos que, em comparação com o grupo de controle, as crianças com TDAH têm muito maior incidência de pedaços de DNA duplicados ou faltando".
"Isso é muito empolgante porque nos dá o primeiro vínculo genético direto com TDAH".
"Analisamos vários fatores potenciais de risco no ambiente - como a contribuição dos pais ou o que acontece antes do nascimento - mas não há evidências que confirmem que (esses fatores) estariam associados ao TDAH".
"Há muita incompreensão por parte do público em relação ao TDAH", ela disse. "Algumas pessoas dizem que não é um transtorno, ou que o problema resulta da inadequação dos pais".
"A descoberta de um vínculo direto deveria corrigir esse estigma."
A equipe de Thapar enfatizou que não há um único gene por trás da condição e que a pesquisa está em um estágio muito inicial para que haja algum teste para o problema.
Mas o grupo espera que o estudo auxilie na compreensão das bases biológicas do TDAH, o que poderia, um dia, resultar em novos tratamentos.
Repercussão
Andrea Bilbow, diretora executiva de uma entidade britânica de apoio a famílias que enfrentam o problema, a ADDIS, disse estar animada:
"Sempre soubemos que havia um vínculo genético, com base em estudos e evidências empíricas. Esse trabalho vai nos ajudar a lidar com os céticos de maneira mais confiante. Eles estão sempre prontos a culpar os pais ou os professores."
Outros especialistas, no entanto, foram bastante críticos em relação ao estudo.
O diretor de uma entidade britânica ligada à saúde mental, Tim Kendall, disse que o TDAH é causado por vários fatores, e que associá-lo exclusivamente a causas genéticos poderia resultar em tratamentos incorretos.
"Tenho certeza de que esses estudos não vão produzir evidências inquestionáveis de que o TDAH é causado apenas geneticamente."
"Estou dizendo que (a condição resulta de) uma mistura de fatores genéticos e ambientais e que o importante é que não acabemos pensando que isso é um problema biológico sujeito apenas a tratamentos biológicos como (o remédio) Ritalina."
Um psicólogo infantil, Oliver James, citou estudos anteriores que observaram o efeito da ansiedade entre mulheres grávidas e dificuldades de relacionamento entre mães e seus bebês logo após o nascimento.
Ele disse: "Apenas 57 das 366 crianças com TDAH tinham a variação genética que seria a suposta causa da condição. Isso indica que, na vasta maioria dos casos, outros fatores são a causa principal."
Este artigo foi publicado pelo G1, em 2010. Até o momento nada há de conclusivo.
Link: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/10/estudo-vincula-deficit-de-atencao-e-hiperatividade-mutacao-genetica.html







sábado, 21 de janeiro de 2017

Diagnóstico indevido. Mães, fica a dica, procurem mais de uma opinião - Relato de Mãe

Nem sempre os médicos, até os considerados os melhores, são donos da verdade.. 

Muitas mães se desesperam ao ouvir um parecer médico, logo na primeira consulta. A importância de checar até o fim, ANTES DE MEDICAR, retirar todas as dúvidas, realizar todos os exames e testes, e tentar outras intervenções. Aqui, o relato de mais uma mãe compromissada com a saúde integral de seu filhote.





Levei o meu filho mais velho, quando tinha um ano e meio aproximadamente, em uma neuropediatra tida como a melhor da minha cidade

Ele era agitado, desatento, não falava, não te atendia quando era chamado, enfim.. ela olhou para ele e disse que ele tinha comportamento autista, que com um ano e meio deveria estar falando, etc... pediu vários exames, eletroencefalograma, ressonância magnética cerebral, exames genéticos, cariótipo, síndrome do x frágil..... todos deram normais, levei na fonoaudióloga também.. enfim, gastei o que tinha e o que não tinha, pois nem todos os exames o plano de saúde cobria..... 

Aí troquei de neuro, que disse que não era autista, que talvez pudesse ter algum transtorno, mas autista zero por cento de chance... Apostou em socializá-lo, em aceitá-lo como ele era, compreendê-lo mais, cuidar do sono... resumindo, meu filho não tinha NADA, nunca foi medicado, aos dois anos e meio começou a falar. Coloquei ele em uma escolinha e ele se acalmou, não era mais aquela criança agitada, nunca tive reclamação dele na escola, nunca apresentou problema de socialização e nem de aprendizagem... 

Nem sempre os médicos, até os considerados os melhores, são donos da verdade... meu filho hoje tem 12 anos, nunca tomou medicamento nenhum, passou para o sétimo ano, nunca pegou RT, sempre passou por média e nunca tive reclamações dele na escola...fica a dica.

Claro que aqui não se trabalha sobre cem por cem, há casos, sim, que precisam ser vistos e acompanhados, mas é preciso divulgar que muitas, muitas vezes não há problema!!! Precisamos ficar alertas, procurar ajuda, opiniões, mas nunca cair no desespero e sempre buscar alternativas que sejam as melhores para os pequenos.

Existem várias crianças com atraso na fala e nem sempre o problema é tdah, autismo ou qualquer outra síndrome. Tudo tem de ser investigado e tem que ter paciência.
















Criss Glockner é de Gravataí - RS





Querendo, leia também:




Drogar crianças em idade pré-escolar - um crime contra a infância
Por Jacob Azerrad, Ph.D

tradução livre: Marise Jalowitzki




quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Os perigos dos medicamentos antipsicóticos, especialmente em crianças

Brandy Warren, mãe de Kyle Warren, começou a se preocupar quando viu os efeitos dos medicamentos em seu pequeno filhote de 3 anos. O garotinho começou com Risperidona foi adicionado Prozac, depois mais dois medicamentos para dormir e um para distúrbio de déficit de atenção...
Risperidona, 
Risperidon®, Risleptic®, Ripevil®, Riss®, Risperdal®, Viverdal, Respidon, Zargus, Esquidon - um dos mais usados para conter a agressividade, a impulsividade das crianças tidas como hiperativas. Este antipsicótico traz sérios riscos, especialmente no uso de médio e longo prazo. Em 90% dos casos há o excesso de prolactina, um hormonio feminino que faz crescer os mamilos, tanto em meninas como em meninos, mesmo antes do início da puberdade, E há mais efeitos colaterais pesados.

No Brasil, este psicotrópico é também distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. Há que informar-se sobre todas as possíveis consequencias antes de administrar em seu filho.


Dr. Fred Baughman: "A verdadeira questão é: como vamos fazer para destruir o monstro que criamos. Fomos enganados em acreditar que as forças do mal residem dentro de nossas crianças. (...)
Nossas crianças agem de forma que incomodam os adultos. 
Temos de ensinar agora aos adultos que a solução é com eles (adultos)! 
Ninguém tem qualquer ideia da dimensão que os efeitos destes medicamentos poderão apresentar no futuro, sendo administrados em crianças tão jovens! 

Temos de parar de colocar as crianças em contato com drogas!" pág 102 - Livro TDAH Crianças que Desafiam 



Transcrevo várias partes de um artigo de Duff Wilson Opelousas, dando detalhes da triste experiencia pela qual passou Kyle Warren, um garotinho de apenas 3 anos de idade. Por sorte a mãe percebeu o caminho pesado que seu pequeno estava trilhando.

"Aos 18 meses de idade, Kyle Warren começou a tomar diariamente um medicamento antipsicótico por ordem de um pediatra que tentava conter os graves episódios de descontrole emocional da criança. Assim teve início uma jornada conturbada para o garoto, de um médico a outro, de um diagnóstico a outro, envolvendo uma quantidade ainda maior de medicamentos. Autismo, desordem bipolar, hiperatividade, insônia, transtorno negativista desafiante (TOD = Transtorno Opositivo Desafiador). 

O regime diário de pílulas do garoto multiplicou-se: o antipsicótico Risperdal, o antidepressivo Prozac, dois remédios para dormir e um para distúrbio do déficit de atenção. E tudo isso quando ele tinha apenas três anos de idade. (!!!) 

Kyle permanecia sedado, babando constantemente e ficou obeso devido aos efeitos colaterais dos medicamentos antipsicóticos. Embora a mãe dele, Brandy Warren, não soubesse mais o que fazer quando recorreu ao tratamento à base de drogas, ela começou a se preocupar com a personalidade alterada de Kyle.

Hoje, Kyle, que tem seis anos de idade, está na quarta semana da primeira série, tendo tirado notas altas nas suas primeiras provas. Ele é barulhento e está mais magro. Tendo deixado gradualmente de tomar os medicamentos, graças a um programa da Universidade Tulane cujo objetivo é ajudar famílias de baixa renda cujos filhos têm problemas mentais, Kyle atualmente ri facilmente e faz brincadeiras com a sua família. Brandy Warren e os novos médicos de Kyle apontam para o seu progresso notável – e para um diagnóstico de desordem do déficit de atenção com hiperatividade, que é mais comum nas crianças – como prova de que aquele tipo de medicamento não deveria jamais ter sido receitado para ele. "

O depoimento desta mãe é o de muitas outras. Psicotrópicos não são inocentes docinhos, nem comprimidinhos mágico, pois, depois de um tempo, os comportamentos tendem a voltar ao que era antes (já que o químico deixa de fazer efeito), além de outros distúrbios (efeito colateral).

"“Tudo o que eu tinha diante de mim era um garotinho drogado”, diz Brandy Warren. “Eu não tinha mais o meu filho. Era como se eu olhasse nos olhos dele e visse apenas um vazio”.  A mãe dele revelou os registros médicos do garoto para ajudar a documentar uma tendência que alguns especialistas em psiquiatria estão achando cada vez mais preocupante: a tendência de certos médicos a prescrever automaticamente drogas mais potentes para o tratamento de crianças muito novas, e até mesmo bebês, cujos sintomas raramente exigem tais medidas." 

"Mais de 500 mil crianças e adolescentes dos Estados Unidos atualmente tomam drogas antipsicóticas, segundo um relatório divulgado em setembro pela Administração de Alimentos e Remédios (FDA)." No Brasil a realidade não fica aquém.

"O uso dessas drogas está aumentando não apenas entre adolescentes mais velhos, que estão na idade em que se acredita que a esquizofrenia se manifeste, mas também entre dezenas de milhares de crianças em idade pré-escolar."

A realidade dos diagnósticos apressados está cada vez mais presente no dia a dia das mães e pais, embora no Brasil já se tenha legislação recomendando que o diagnóstico só seja emitido após uma investigação acurada, retirando todas as outras possibilidades, escutando todas as partes envolvidas e demais especializações médicas (oftalmologista, dentista, fonoaudióloga, psicóloga, neuropediatra), além dos exames (Resolução 177/15 - CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente). 




"Um estudo da Universidade Columbia revelou recentemente que, entre 2000 e 2007, dobrou o índice de prescrições de drogas antipsicóticas a crianças de dois a cinco anos de idade que estão cobertas por plano particular de saúde. Somente 40% dessas crianças foram submetidas a uma avaliação de saúde mental apropriada, o que viola os padrões de prática médica estabelecidos pela Academia Norte-americana de Psiquiatria Infantil e de Adolescentes. 

'Há uma quantidade enorme de crianças tomando uma quantidade excessiva dessas drogas muito prematuramente', alerta Mark Olfson, professor de psiquiatria clínica e principal pesquisador do estudo financiado pelo governo. Segundo alguns médicos e especialistas, tais tratamentos radicais são de fato necessários para ajudar crianças novas com problemas graves a permanecer em segurança em escolas ou creches. Em 2006, a FDA aprovou o tratamento de crianças a partir de cinco anos de idade com Risperdal caso elas apresentassem autismo e comportamento agressivo, tendências a ferirem a si próprias, crises de ira ou grandes oscilações de humor. Duas outras drogas, o Seroquel, da AstraZeneca, e o Abilify, da Bristol-Myers Squibb, podem ser usadas em crianças a partir de dez anos de idade que apresentem desordem bipolar ou depressão maníaca. Mas muitos médicos dizem que a prescrição desses remédios a crianças cada vez mais novas representa graves riscos para o desenvolvimento tanto dos corpos quando dos cérebros em fase de rápido crescimento. 

Há uma tendência bem maior de medicar os meninos do que as meninas. O médico Ben Vitiello, chefe de tratamento e pesquisas preventivas para crianças e adolescentes do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, diz que é extremamente difícil diagnosticar apropriadamente problemas desse tipo em crianças novas devido à variabilidade emocional apresentada por estas. 

'Este é um fenômeno recente, motivado em grande parte pela percepção equivocada de que esses remédios são seguros e bem tolerados', afirma ele. Até mesmo os médicos que mais relutam em prescrever essas drogas deparam-se com um marketing intenso que transformou os antipsicóticos nas drogas mais lucrativas do país, e cujas vendas só no ano passado foram de US$ 14,6 bilhões, com grandes promoções voltadas para o tratamento de crianças. Na sala de espera do primeiro psiquiatra infantil de Kyle, as crianças brincavam com peças de Lego que traziam estampada a palavra Risperdal, uma droga fabricada pela Johnson & Johnson. Desde então a empresa perdeu a sua patente da droga e deixou de fornecer os brinquedos. Greg Panico, um porta-voz da companhia, diz que os Legos não eram fornecidos com a intenção de que as crianças brincassem com eles, mas sim como material de propaganda. 

"O psiquiatra Lawrence L. Greenhill, presidente da Academia Norte-americana de Psiquiatria Infantil e de Adolescentes, preocupado com a falta de pesquisas na área, recomendou a adoção de um registro nacional para que se possa acompanhar durante os próximos dez anos crianças em idade pré-escolar que tomam drogas antipsicóticas. “A psicoterapia é a base fundamental para o tratamento de crianças em idade pré-escolar que apresentam desordens mentais graves, e os antipsicóticos consistem em uma terapia de apoio – e não o contrário”, afirma Greenhill. 





"Mas é mais fácil medicar as crianças do que pagar um terapeuta familiar, um fato que foi evidenciado por um estudo da Universidade Rutgers, do ano passado, que revelou que crianças de famílias de baixa renda, como Kyle, têm uma probabilidade quatro vezes maior de receber medicamentos antipsicóticos do que crianças cobertas por seguro de saúde particular. Dados do Texas Medicaid obtidos pelo jornal “The New York Times” revelaram que no ano passado foi dispendido um recorde de US$ 96 milhões (R$ 167,7 milhões) com medicamentos antipsicóticos para adolescentes e crianças – incluindo três bebês não identificados aos quais se administraram os remédios antes que eles tivessem completado um ano de idade. Além disso, ao que parece, crianças de orfanatos são medicadas com mais frequência, o que fez com que um comitê do senado norte-americano, em junho, solicitasse ao Departamento de Responsabilidade Governamental que investigasse tais práticas." (...) 

"A FDA também passou a reforçar as advertências quanto ao uso de algumas dessas drogas para o tratamento de crianças. Kyle foi resgatado da sua medicação permanente por um programa terapêutico chamado Serviço e Apoio à Primeira Infância, criado na Luisiana por psiquiatras infantis da Universidade Tulane, da Universidade do Estado da Luisiana e pelo governo daquele Estado. O programa fornece a crianças que apresentam problemas e aos seus pais serviços de apoio social e de saúde mental. 


Kyle Warren, aos três anos, obeso, sedado, recebeu uma bateria de medicação psicotrópica, sendo que as crises de ira eram provocadas por problemas familiares e atraso na fala.

A médica Mary Margaret Gleason, a professora de pediatria e de psiquiatria infantil da Universidade Tulane que tratou de Kyle dos três aos cinco anos de idade, quando a medicação foi gradualmente reduzida, diz que não havia nenhuma razão médica válida para prescrever drogas antipsicóticas ao garoto, ou a qualquer criança de dois anos de idade. “Fatos como esse são preocupantes”, diz ela. 

"Gleason afirma que a situação atual de Kyle demonstra que ele provavelmente jamais teve distúrbio bipolar, autismo ou psicose. Os médicos atualmente dizem que as crises de ira de Kyle eram provocadas por problemas familiares e atraso na fala, e que nada disso justificava o uso de antipsicóticos.

“Eu jamais deixarei os meus filhos tomarem essas drogas de novo”, afirma Warren, 28, tentando controlar as lágrimas. “Eu não percebi o que estava fazendo”. 

"Edgardo R. Concepcion, o primeiro psiquiatra infantil a tratar de Kyle, disse que acreditava que as drogas poderiam ajudar em casos de depressão maníaca ou distúrbio bipolar em crianças novas. “Não é fácil fazer isso e prescrever essas medicações pesadas”, disse ele em uma entrevista. “Mas quando eles me procuraram, não tive escolha. Tive que ajudar essa família, essa mãe. Eu não tive escolha”. 


Maturidade

Warren admite que recorreu aos remédios para Kyle porque não estava preparada para ser mãe aos 22 anos de idade, vivendo em circunstâncias difíceis, e estando frequentemente distraída. “Era complicado”, diz ela. “A situação era muito tensa”. Kyle era um bebê fisicamente saudável, mas ele tinha medo de certas coisas. Ela passava horas enfileirando brinquedos. Quando estava contrariado, gritava, arremessava objetos, e chegava até mesmo a bater a cabeça contra a parede e o assoalho – um comportamento que não é incomum em bebês, mas que é assustador. 

“Eu o levei ao médico, que me disse que eu precisava apenas discipliná-lo”, conta Warren. “Mas como é que a gente disciplina um bebê de seis meses?”. Quando o comportamento de Kyle piorou depois que o irmão dele nasceu, Warren procurou o pediatra Martin J. DeGravelle. “Após passar cinco minutos sentado com Kyle, ele me olhou e disse: 'O menino tem autismo, não há nenhuma dúvida quanto a isso'”, diz Warren

Os registros da clínica de DeGravelle dizem que Kyle era hiperativo, predisposto a crises de ira, que ele falava apenas três palavras e “não interagia bem com desconhecidos”. DeGravelle receitou Risperdal. Naquela época, o Risperdal havia sido aprovado pela FDA apenas para adultos com esquizofrenia ou episódios maníacos agudos. No ano seguinte a medicação foi aprovada para certas crianças, a partir de cinco anos de idade, que sofressem de autismo ou apresentassem comportamento agressivo extremo. 

O remédio jamais foi aprovado pela FDA para uso em crianças com menos de cinco anos de idade, embora os médicos possam receitá-lo para “off-label use”. 

“Naquela época Kyle estava muito agressivo e ficava agitado com facilidade, de forma que tentamos encontrar uma medicação capaz de controlá-lo mais facilmente, já que não é possível argumentar com uma criança de 18 meses de idade”, disse DeGravelle em uma entrevista por telefone. 


É autismo??

Muitos pais, também no Brasil, desconfiam deste diagnóstico, já que a criança, apesar de agressiva em alguns momentos, interagir, responder, se comunicar. Procure uma segunda opinião!!!

"Mas Kyle não era autista – segundo várias avaliações, incluindo uma que DeGravelle recomendou que fosse feita por um neurologista. “Kyle não possui aquele déficit de interação social que é característico de crianças autistas”, diz Gleason. “O que ele queria era uma atenção mais positiva da mãe”. “Ele tinha problemas para se comunicar”, explica Gleason. “Kyle não contava com pessoas para ouví-lo”. 

"Após a consulta com o neurologista, o diagnóstico mudou para “transtorno negativista desafiante” e ele continuou tomando Risperdal. “Sim, eu pedi que o remédio fosse receitado”, admite Warren. “Mas eu já estava no limite, sem saber mais o que fazer”. DeGravelle sugeriu que ela marcasse uma consulta para o menino com Concepcion, que diagnosticou Kyle como sendo portador de distúrbio bipolar. “Os pais de muitas crianças que eu examino encontram-se realmente frustrados”, disse Concepcion em uma entrevista por telefone. “Especialmente as mães costumam chegar apavoradas e desesperadas para conseguir ajuda. Os seus filhos agem de fato como psicóticos”. 

"Concepcion conversou também com o médico Charles H. Zeanah, um professor da Universidade Tulane que que desaprovou tanto o diagnóstico quanto o tratamento prescrito. “Eu nunca vi uma criança em idade pré-escolar com distúrbio bipolar nos meus 30 anos como psiquiatra infantil especializado em saúde mental da primeira infância”, afirma Zeanah. “Esse diagnóstico foi polêmico, eu reconheço isso”, disse Concepcion. “Mas se a gente se propõe a receitar tais remédios a essas crianças, é necessário contar com um diagnóstico que embase o nosso plano de tratamento. Não se pode deixar de fornecer um diagnóstico e prescrever a eles o antipsicótico atípico”. Ele receitou mais quatro medicamentos para Kyle. 

"A foto da festa do aniversário de três anos de Kyle mostra um garoto de faces rosadas que engordou, atingindo um peso de 22,2 quilogramas. Crianças que tomam medicações antipsicóticas correm o risco de ficarem obesas e de sofrerem de diabetes. Na foto, Kyle sorri. Ele estava sedado. “A casca dele estava lá, mas o espírito não”, diz a mãe Warren. “E eu não gostava nada disso”. 

"Concepcion indicou Kyle para o programa de apoio à primeira infância, que desde 2002 ajudou cerca de 3.000 crianças em idade pré-escolar de famílias de baixa renda que corriam risco de padecer de doença mental. A fala de Kyle melhorou. Ele passou a manifestar menos crises de ira. “Eles começaram a trabalhar conosco como família”, conta Warren, que também recebeu aconselhamento para pais. “Isso ajudou”. 

"O tratamento de Kyle foi dirigido por Gleason, uma médica formada pela Universidade Columbia que liderava uma equipe responsável pela redação de diretrizes práticas para o tratamento psicofarmacológico de crianças muito novas. “As famílias às vezes precisam de uma solução rápida”, explica Gleason. “E esta rota frequentemente leva à prescrição de medicamentos. Mas eu temo que quando uma criança seja tratada por alguém que receite remédios mas não ofereça terapia, isso possa fechar a porta para um caminho capaz de provocar mudanças duradouras”. 

"Sem tomar mais a maioria dos remédios, Kyle passou a perder peso e o seu comportamento melhorou. A vida de Warren também melhorou. Ela conheceu um homem, e eles mudaram-se para uma casa própria perto de Opelousas, uma pequena cidade de 25 mil habitantes. No último sábado, os dois se casaram. Na nova casa, Kyle e o irmão, Jade, correm e brincam enquanto a babá os observa. As roupas deles estão cuidadosamente dobradas no quarto que dividem. Eles respondem com frequência: “Sim senhora”, ou “Sim senhor”. “Eles são muito respeitosos, mas são crianças hiperativas”, diz Warren. “Assim que deixou de tomar a medicação, ele voltou a ser Kyle. Ele é uma pessoa inteligente, barulhenta, engraçada, inteligente e ativa. Quero dizer, não temos jamais momentos de tédio. Kyle ainda apresenta alguns problemas de comportamento. Mas ele é como qualquer outra criança de seis anos de idade”. 

"Kyle faz uma pausa para ler um boletim do final do seu ano do jardim de infância, com uma nota “A”. 
“Excelente trabalho, Kyle!”, escreveu a sua professora do jardim de infância."

Texto original publicado no The New York Times - autor: Duff Wilson Opelousas, Luisiana (Estados Unidos) UOL 
Para ler na íntegra, consulte:
The New York Times
Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd0709201001.htm
http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/09/02/caso-de-menino-norte-americano-mostra-os-perigos-dos-medicamentos-antipsicoticos.jhtm
Tradução de CLARA ALLAIN
CONANDA - http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2015/12/tdah-diario-oficial-publica-resolucao.html

Brandy Warren, Charles H. Zeanah, Kyle Warren, Lawrence L. Greenhill

link deste blog: http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2017/01/os-perigos-dos-medicamentos.html


Querendo, leia também:

Remédios, ganância e um menino morto - Seroquel - The New York Times 


Mais uma criança ceifada prematuramente, mais um pai que escreve sua dor em um livro, na tentativa de alertar os demais de que comprimidos não são doces. Enquanto isso, a indústria farmacêutica continua pressionando o congresso norteamericano para que libere as receitas de drogas também para uso off-label. Este procedimento já vem sendo largamente utilizado também no Brasil. Está reivindicando um direito da Primeira Emenda da Constituição que lhe permitiria comercializar suas drogas para usos não especificamente aprovados ("off-label", literalmente "fora do rótulo"), um caminho que tornaria especialmente vulneráveis crianças com problemas de saúde mental como Andrew.

"Seroquel é Quetiapina, um neuroléptico do grupo dibenzotiazepina. Suas principais indicações são para o tratamento da esquizofrenia e do transtorno do humor bipolar tanto em fases maníacas como depressivas, principalmente para os pacientes que não se beneficiaram com os antipsicóticos clássicos." (Psicosite)

Dr. Fred A. Baughman, Jr. MD, Neurologista (adulto e infantil), é mais conhecido como um crítico da psiquiatria , afirma que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é "uma fraude perpetrada pelas indústrias psiquiátricos e farmacêuticos para que as famílias ansiosas mediquem suas crianças, ao invés de entender seus comportamentos.". Baughman testemunhou perante o Congresso dos Estados Unidos , e foi entrevistado na PBS sobre o tema do TDAH. Ele fez várias aparições em talk shows, e tem escrito vários livros auto-publicados. autor do Livro: TDAH A Fraude (tradução em espanhol)


Publicado neste blog em 12.novembro.2015
http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2015/11/remedios-ganancia-e-um-menino-morto.html


Também:

TDAH e a Síndrome de Indução Medicalizante pelo Adulto - SIMA
Como se constrói a autoestima de uma criança?


 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

blogs:
www.compromissoconsciente.blogspot.com.br


LIVRO TDAH CRIANÇAS QUE DESAFIAM
Informações, esclarecimentos, denúncias, relatos e dicas práticas de como lidar 
Déficit de Atenção e Hiperatividade