domingo, 4 de outubro de 2015

A maioria dos pais entende que o medicamento faz bem para o filho? Como convencê-los de que esses medicamentos não são os protagonistas do tratamento do TDAH?




A maioria dos pais entende que o medicamento faz bem para o filho? Como convencê-los de que esses medicamentos não são os protagonistas do tratamento do TDAH?


Publicado neste blog em 05.outubro.2015
http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2015/10/a-maioria-dos-pais-entende-que-o.html

Resposta: O que raramente se diz e que parte relevante da literatura vem apontando de forma incisiva é que os divulgados efeitos terapêuticos do metilfenidato são, na realidade, sinais de toxicidade da droga. Os pais precisam saber disso e precisam saber que o que se produz com esse remédio é a contenção química de crianças, o silenciamento de conflitos latentes que, por não conseguirem se expressar (e não estamos conseguindo facilitar isso para as crianças), aparecem como sintomas de intensa atividade e desatenção. 

Há que se voltar a destacar a produção social de hiperatividade e desatenção. 

Penso que a sociedade está praticando uma dupla violência com as crianças: primeiro, ao negar-lhes o direito a uma infância livre e saudável; depois, medicalizando aquilo que, na criança, pede escuta e atenção. Isso é gravíssimo. Agora veja... os medicamentos SÃO os protagonistas do tratamento do TDAH. O que proponho às famílias, educadores e colegas é que deixemos de pensar o TDAH e passemos a pensar na criança e na infância danificada que temos hoje. Deixo como provocação a ideia de um professor do meu período de graduação: "passamos do tempo em que se criavam remédios para doenças para um tempo em que se criam doenças para remédios".


2 - Hoje, praticamente todas as crianças diagnosticadas com o transtorno fazem uso de Ritalina e Concerta? Quais os melhores tratamentos para o transtorno?

Resposta: Mencionei acima um resultado da pesquisa de metanálise da Universidade de McMaster (Canadá). Pois bem, voltemos a ela: os 12 trabalhos que preenchem critérios mínimos de cientificidade são, curiosamente, os trabalhos que indicam a orientação familiar como método interventivo mais seguro, eficaz e confiável para o tratamento de crianças diagnosticadas como portadoras de TDAH. 

Mesmo assim, temos essa contradição que você aponta na pergunta e faço questão de reiterar aqui: a associação entre o diagnóstico e o tratamento medicamentoso é praticamente imediata. Não é à toa que as logomarcas dos laboratórios farmacêuticos foram inseridas na homepage do site oficial da associação brasileira do transtorno. 

Quanto à questão dos melhores tratamentos, veja... não falarei em termos de tratamento, mas tomarei de empréstimo uma expressão muito bonita que o importante Instituto Alana tem como missão: "honrar a criança". É basicamente isso que precisamos fazer e isso é urgente. Precisamos lembrar da criança de gerações anteriores que tinha tempo e espaço para brincar, que - além da escola - não tinha uma agenda sufocante de compromissos, que não era presa do consumismo desenfreado (não tanto quanto hoje), que não era bombardeada por mil estímulos e tecnologias o tempo todo, enfim... isso não é para sermos nostálgicos/saudosistas, mas para refletirmos, enquanto sociedade, sobre o momento em que "perdemos a mão" e tentarmos resistir o quanto pudermos a um mundo que, a meu ver, está voltado contra a criança e, portanto, contra o humano. E, claro, é preciso escutar a criança. É preciso acolher e validar seus conflitos, suas necessidades, suas mil maneiras de estar no mundo. Evidentemente que não é o caso de ser negligente caso algum tipo de tratamento especializado seja necessário, mas insisto na máxima de "honrar a criança" como forma de cuidar para que o tratamento não seja sequer necessário e para que possamos combater, pela vida, o fenômeno da medicalização da infância.

(...)
4 - De que forma esses medicamentos atuam no sistema nervoso das crianças? Elas ficam dependentes dele?
Resposta: O metilfenidato é um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC). Da família das anfetaminas, o fármaco aumenta a liberação e inibe a recaptação de dopamina (neurotransmissor ligado à concentração e às funções executivas) e noradrenalina (neurotransmissor da ansiedade, do alerta) no cérebro. Atua no sentido de manter a criança ou o jovem "concentrado e capaz" de controlar seus impulsos. Sim, existe o risco de dependência e de elevar as chances de drogadição na adolescência.


Extraído de:

Segue a discussão sobre o controverso TDAH


Recentemente uma jornalista me contatou para uma entrevista que discutiria o TDAH como expressão do fenômeno da medicalização em crianças e adolescentes. Infelizmente, porém, a edição do material acabou por comprometer o conteúdo da entrevista; pensei em compartilhá-la por aqui (na íntegra) - para que o material não se perdesse e para que pudéssemos fazê-lo circular na rede. Segue abaixo o roteiro de perguntas seguido das minhas respostas.

Ricardo Brasil - Ricardo Taveiros Brasil é psicólogo, mestrando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP, membro do Grupo Interinstitucional Queixa Escolar e do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. 
Para ler na íntegra, clique: entrevista completa no Facebook







Com satisfação, transcrevo da página do Rubens Bias:


MAIS UMA VITÓRIA NA LUTA CONTRA A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA!
Ministério da Saúde publica recomendações sobre uso abusivo de medicamentos na infância!
As Coordenações Gerais de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, Saúde dos Adolescentes e dos Jovens e a Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde divulgaram nesta quinta-feira (01/10) uma recomendação para que Estados e Municípios publiquem protocolos de dispensação de metilfenidato, cujo nomecomercial é Ritalina ou Concerta, seguindo recomendações nacionais e internacionais para prevenir a excessiva medicalização de crianças e adolescentes.
A medida foi tomada diante da tendência de compreensão de dificuldades de aprendizagem como transtornos biológicos a serem medicados, do aumento intenso no consumo de metilfenidato e dos riscos associados ao consumo desse medicamento.
Serviu de base nessa construção o trabalho realizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Dados expostos na recomendação do Ministério da Saúde indicam que o Brasil se tornou o segundo mercado mundial no consumo do metilfenidato, com cerca de 2.000.000 de caixas vendidas no ano de 2010, e apontam para um aumento de consumo de 775% nos últimos 10 anos no Brasil.
Segundo o documento, as estimativas de prevalência de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes no Brasil são bastante discordantes, com valores de 0,9% a 26,8%. O TDAH não pode ser confirmado por nenhum exame laboratorial ou de imagem, o que gera, inclusive, questionamentos quanto a sua existência enquanto diagnóstico clínico. Os custos anuais de tratamento, segundo estudo publicado em 2014, variam de R$ 375,40 até R$4.955,38.
Experiências das Prefeituras de São Paulo (Portaria nº 986/2014) e Campinas/SP mostram como a publicação de protocolos pode contribuir para a diminuição da prescrição excessiva do medicamento.
Por fim, a medida segue orientação da 26ª Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos (RAADH) do MERCOSUL, realizada em 6 de julho, em Brasília, que afirmou a importância de garantir o direito de crianças e adolescentes a não serem excessivamente medicados e recomendou o estabelecimento de diretrizes e protocolos clínicos.

O conteúdo completo pode ser acessado no link: 
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sas/saude-da-crianca-e-aleitamento-materno/noticias-saude-da-crianca-e-aleitamento-materno/19970-ministerio-da-saude-publica-recomendacoes-sobre-o-uso-abusivo-de-medicamentos-na-infancia
Data de Cadastro: 01/10/2015 as 18:10:00 alterado em 01/10/2015 as 18:10:00
Brasil é o segundo maior mercado consumidor de Ritalina do mundo.

Confira na íntegra a recomendação do Ministério da Saúde clicando aqui.
Por Cristiane Madeira Ximenes, com colaboração de Rubens Bias Pinto






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